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segunda-feira, 26 de novembro de 2012

A MALHADA


O sino da igreja acabava de dar as tradicionais badaladas, anunciando o chegar do dia, era o toque conhecido por ave-marias, era o sinal para as pessoas abandonarem a cama e levantar para mais um dia de trabalho.


Este porém era um dia diferente, os manguais já tinham ficado de molho desde a véspera, pois esperavam-nos um dia diferente. A luta do quotidiano variava consoante a época e agora, aos poucos, as pessoas iam chegando à eira, onde algumas “pousadas” de centeio os aguardava, para serem enfim debulhados.

O velho lavrador providenciara de antemão para que nada faltasse, tendo acautelado todos os requisitos exigidos nestas circunstâncias.

Assim as “cuanhas” varas de giesta, as vassouras rasas “giestas carrapotas”e demais utensílios, eram previamente preparados para o grande dia, “A MALHADA”.


Este era um trabalho árduo mas ao mesmo tempo era também o culminar de mais um ano de labor agrícola.


As medas de centeio aglomeravam-se nas eiras, como cogumelos, umas mais pequenas que outras, mas todas aguardavam a sua vez.


O empedrado da eira era tão irregular que eram necessários cuidados redobrados para que os malhadores não escorregassem e viessem a sofrer algum dano mais grave.


Um dos filhos do lavrador subia à meda e gritava a fortes pulmões “À eira Homens e Mulheres da Beira”. Esta expressão servia para chamar as pessoas previamente rogadas, creio que até nem seria necessário mas, pelo menos, cumpria-se uma tradição. Daí, ainda hoje, se dizer com alguma frequência “VAI LÁ RONCAR Á EIRA”.


Oito ou dez molhos de centeio eram colocados no chão de forma que os malhadores também alinhados uns em frente aos outros, pudessem manobrar o mangual, sem que se atingissem entre si.


O número de malhadores derivava, consoante a quantidade de centeio a malhar, poderia atingir os vinte, ou então os quatro, ou seis ou mais, como se disse, dependeria da quantidade de centeio. Por norma, o número de homens era sempre par e divididos equitativamente, de forma que destros e esquerdinos manobrassem o mangual, sem se tocarem.


Uma mulher, por norma bastante robusta, fazia a “chega” do molho, que um outro indivíduo ia atirando da meda abaixo.


Tomado o café, era chegada a hora de começar a malha, com os manguais a silvar o ar dando uma meia volta de forma a bater sempre com a mesma face na palha. Um dos malhadores ia dando o compasso, utilizando frases mais ou menos do género: “Vai daqui “;” olha gata”; etc.


Por volta das nove horas era servido o almoço, um pouco melhorado, já que o esforço dispendido era muito e havia que corrigir energias para aguentar o dia todo.


As refeições seguiam-se cumprindo rigorosamente os horários, ao meio-dia o jantar, às cinco a merenda e no fim a ceia.


Depois de malhado o centeio, procedia-se à limpa, assim os homens munidos das “cuanhas” iam limpando, penteando a rima de centeio, de forma a tirar a sujidade maior, enquanto as mulheres com as vassouras carrapotas varriam a eira, depois o centeio era erguido, para que o vento fizesse por fim a ultima limpeza.
Texto escrito em 2011

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